"Onde os fatos não têm vez", de Ronaldo Velho Bueno, discute desinformação e teorias conspiratórias
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13.07.2025 - 13h47min
Em tempos de desinformação em massa, teorias conspiratórias e ataques à credibilidade jornalística, uma obra que conecta literatura, jornalismo e pensamento crítico chama a atenção. É com esse olhar que o jornalista e pesquisador Ronaldo Velho Bueno estreia na cena literária com Onde os fatos não têm vez: Umberto Eco e a pós-verdade. O livro, publicado pela Paco Editorial, será lançado em Caxias do Sul no próximo sábado (19), com sessão de autógrafos das 10h às 13h, na Do Arco da Velha Livraria & Café. A obra será vendida no local por R$ 52,90.
A proposta parte da análise do romance Número Zero (2015), de Umberto Eco, para investigar de que forma a ficção pode iluminar aspectos da desinformação, do conspiracionismo e do fenômeno contemporâneo da pós-verdade.
“Umberto Eco foi um dos grandes intelectuais do século XX. Além de uma produção teórica importantíssima, ele também foi um excelente escritor, trazendo para a ficção literária vários problemas atuais, como os riscos da desinformação e das teorias conspiratórias”, afirma o autor.
Ao escolher o romance como objeto de estudo, Bueno buscou uma ponte entre sua formação em jornalismo e sua experiência acadêmica em Letras.
“Boa parte do livro se passa na redação de um jornal, e os personagens são repórteres. Desde a primeira vez que li esse livro, em 2018, vi que tinha um potencial para análise literária”, conta.
Em Onde os fatos não têm vez…, ele se debruça sobre as práticas do fictício jornal Amanhã e sobre o personagem Braggadocio, que representa o conspiracionismo. A literatura, segundo o pesquisador, permite reconhecer os mecanismos de manipulação da realidade em um contexto simbólico que se aproxima da vida real.
“Número Zero mostra os bastidores de um jornal criado com o objetivo de manipular a realidade e chantagear adversários. É um prato cheio para relacionar com o cenário atual de desinformação e circulação de fake news”, reflete o autor.
O livro é também uma tentativa de ampliar os horizontes da pesquisa científica para além dos muros da universidade.
“Um dos maiores desafios da ciência, e não é de hoje, é a divulgação. Ou seja, fazer o conhecimento produzido nas universidades circular para além do ambiente acadêmico”, destaca.
“É o que tento fazer com a transformação da minha pesquisa de mestrado em livro: proporcionar que ela chegue a um público maior, compartilhar o que estudei com outras pessoas que apreciam a obra de Umberto Eco ou que tenham interesse pela temática da pós-verdade”, narra o pesquisador.
Na análise do autor, a pós-verdade é um fenômeno complexo que não se resume à mentira.
“Pós-verdade não é um mero sinônimo de mentira ou fake news. Precisamos entender que é um fenômeno recente em que os fatos perdem espaço para opiniões e crenças pessoais”, observa.
“Mesmo diante de evidências científicas, algumas pessoas preferem acreditar que o aquecimento global não passa de uma farsa, de um complô”, exemplifica Ronaldo.
O escritor também reflete sobre os limites das ferramentas atuais de combate à desinformação.
“Ainda não temos uma resposta eficaz para o avanço da desinformação. Mesmo que uma checagem tenha mostrado, ‘por a mais b’, que se trata de uma mentira, muitas pessoas continuam acreditando. Por isso, o primeiro passo é tentar entender como chegamos até aqui e como estabelecer um diálogo respeitoso mesmo em tempos de tanto extremismo”, pontua.
Com experiência em rádio, jornal impresso e projetos culturais, o autor já participou de congressos no Brasil, na Espanha e em Portugal, e acredita no papel transformador do conhecimento.
“Acredito que a ciência é um dos melhores caminhos que temos à disposição para compreender e enfrentar os problemas do nosso tempo”, conclui o jornalista.
Ronaldo Velho Bueno é jornalista e mestre em Letras e Cultura pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Atuou como apresentador de rádio, repórter de cultura em jornal e assessor de imprensa para projetos culturais. Desenvolve pesquisas nas áreas de Comunicação e Literatura, com ênfase em temáticas como credibilidade jornalística, desinformação e teorias conspiratórias.
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